O INFANTE D. HENRIQUE E AMPLIAÇÃO DO MUNDO DO SEC. XV
Autor: Anibal de Almeida Fernandes, Abril, 2010.
Há muita controvérsia sobre a existência física/concreta da Escola de Sagres, conforme é registrado nos dois trabalhos de Luis de Albuquerque, Introdução à História dos Descobrimentos Portugueses e Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses, poispara ele nunca houve a Escola de Sagres que foi, antes de tudo, uma escola prática em que os marinheiros foram mestres e alunos. Ou, como muito a propósito escreveu Luciano Pereira da Silva, que os bancos da Escola de Sagres foram as pranchas das caravelas. O historiador Tito Lívio Ferreira nomeia, entretanto, a Escola de Sagres como a 1ª Escola Náutica do mundo, porem ela nunca existiu como fato concreto, apenas houve esporádicas reuniões em Sagres . Desde o início ela está ligada ao papado que a financia desde sua criação em 1418 e determina, através de sucessivas bulas papais (de 1418, 1431, 1447, 1452, a 1454), que as eventuais descobertas feitas pelos pilotos da Escola de Sagres pertenceriam à Ordem de Cristo, que financiava suas viagens.
O Infante D. Henrique, 1º Duque de Viseu, e Senhor de Covilhã, tinha a Casa Ducal mais rica de Portugal pelo volume das rendas de seus privilégios fiscais, superando a Casa Ducal de Afonso seu irmão bastardo, o 1º Duque de Bragança, que tinha mais extensão territorial, porém menos rendas. Seu pai, D. João I, o incumbe de conquistar Ceuta, na África, e para tanto é armada uma poderosa frota de 200 navios e 80.000 homens que tomam a cidade a 10/8/1415. O Infante é nomeado pelo Papa Martinho V, em 1418, Príncipe Ecumênico e Administrador Apostólico da Ordem Militar da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, (ou Ordem de Cristo, sucessora em Portugal, da Ordem dos Templários extinta pelo Papa Clemente V no Concílio de Viena 1311-1312, após a destruição em França dos Templários), o que deixa o Infante ainda mais rico, pois as rendas da Ordem de Cristo são disponibilizadas pelo Papa para tentar os descobrimentos que este Infante se proporá a fazer através das viagens que inicia com seus planos navais, no que é estimulado pelo seu irmão regente D. Pedro, Duque de Coimbra. Ele vai para o Algarve, após a tomada de Ceuta em 1415, passando a mandar a cada ano, 2 ou 3 navios a sondar os mares, em 1420 redescobrem a Ilha da Madeira, em 1434 vencem o Bojador, em 1455 chegam a Cabo Verde. Lá no Algarve cria, em 1441, a partir da barcha e do barinel, a caravela, com cerca de 22 m. por 8 m. que é específica para a navegação de alto mar com mais segurança técnica, rapidez e agilidade, com muito mais pontal e 2 ou 3 mastros com velas latinas (que podiam navegar contra o vento) e com castelo na ré o que lhe dá maior bojo e muito mais estabilidade. Após a morte de D. Henrique, em 1460, continuam os portugueses, com energia e competencia, a ampliar os limites do mundo conhecido no séc. XV, em 1487 dobram o Cabo das Tormentas chegando ao Oceano Indico e, finalmente, em 1498 Vasco da Gama chega a Calicute na Índia e, em 1500, acha-se o Brasil, a que Pedro Álvares Cabral dá o nome de Província de Santa Cruz, e que é incorporado ao patrimônio da Ordem de Cristo, que continua sendo governada pela Monarquia de Portugal.
D. Henrique, o Infante, viveu em seu paço lisboeta até a morte de seu pai em 1433, quando parou de freqüentar a corte e se isolou no Algarves (=o Ocidente dos árabes), onde instala em 1437 em Lagos, o porto de saída das naus, na região do Cabo de Sagres que é o mais recortado entre os 3 existentes nesta área do litoral próxima a Raposeira, vila existente a meia légua para dentro da terra. São os cabos chamados de Cabo da Almenara, o Cabo Terçanabal/Carphanabal (=Cabo de Anibal) que foi uma das fortificações tomadas aos mouros em 1189, e o Cabo de Sagres. Em Sagres D. Henrique concebeu o plano da Vila do Infante que não foi, aparentemente, o complexo de construções que ele inicialmente pretendia fazer, compondo um povoamento com casarões/armazéns destinados aos apetrechos navais e um pequeno paço senhorial com cômodos para pilotos da região e estranhos em transito, casario para mestres e servidores para que ali fixassem suas famílias e uma capela com casa para os aposentos dos clérigos. D. Henrique se lançou na exploração científica dos mares servindo-se dos conhecimentos náuticos dos árabes e revolucionando as técnicas de navegação e se tornando o padrinho do Novo Mundo.
Em 1441, na cidade de Lagos, chegaram as primeiras amostras de indígenas d’África Ocidental. Um importante registro relata que, a 8/8/1445, chegou um lote de 235 indígenas que iam das feições caucasóides ate às de pele negra, os chamados etíopes, trazidos por Lançarote de Freitas, genro do rico armador Soeiro Gomes, e que, por tal feito foi, lá mesmo, armado cavaleiro pelo Infante D. Pedro, 1º Duque de Coimbra, regente de Portugal entre 1439 e 1446. Para não prejudicar ninguém se procedeu à discriminação eqüitativa dos escravos válidos para o que foi necessário separar pais de filhos e irmãos de irmãs. D. Henrique assistia à parada em cima de um poderoso cavalo e, do seu quinto legal, equivalente a 46 nativos, o grande senhor cristão mandou dividir alguns entre seus criados e reservando os melhores para a igreja Santa Maria de Lagos e para o mosteiro do Cabo aonde um menino negro chegou a ter ordens sacras e a morrer católico cristão.
O Infante D. Henrique, (*4/3/1394 +1460), 1º Duque de Coimbra, era o 5º filho de D. João I, (*1357 +1433), que era bastardo e frei, conhecido como Mestre d’Aviz, foi o 10º rei de Portugal (1385-1433) e funda a Dinastia de Avís, que é a 2ª Dinastia Real portuguesa (1383-1580), que consolida a burguesia mercante nos negócios do Estado. D. João I foi casado, a 2/2/1387, com Felipa de Lancaster (*1360 +19/7/1415 de peste), filha do Duque de Lancaster da Inglaterra e de Constança de Castela, era neta de Pedro, o Cru, Rei de Castela, era irmã de Henrique IV, Rei da Inglaterra. O Infante foi chamado de Henrique em homenagem ao bisavô materno (linha feminina), Henrique, duque de Lancaster.
D. João 1º, Mestre de Avíz, (*1357 +1433), (filho bastardo de Pedro 1º, 8º Rei de Portugal, conhecido pelo amor a Inês de Castro), após vencer a guerra contra Castela. É o 10º Rei português e inicia a 2ª Dinastia Real de Portugal, a Dinastia de Aviz (1383 a 1580). Casou em 1387 com Filipa, (filha de João de Gant, duque de Lencastre), pais de *Duarte I, 11º Rei. Em seu longo reinado, de quase 50 anos (1385 a 1433) há um longo período de paz interna e externa, só cortado pela aventura de Ceuta e a nobreza lusitana esteve intimamente associada à atividade mercantil.
Dinastia de Avíz, 2ª Dinastia Real de Portugal: *D. Duarte 11º Rei (1433-1438) pai de Afonso V, 12º Rei (1438-1481), pai de João II, 13º Rei (1481-1495 fal. sem sucessor). D. Manuel, o Venturoso, 14º Rei, (1469-1521) é irmão de Afonso V e pai de João III (1502-1557), 15º Rei, D. Sebastião, o Desejado, 16º Rei, (1557-1558), neto de D. João III, D. Henrique, 17º Rei, (*1512 +1580 fal. sem sucessor), Cardeal , filho de D. Manoel I.
D. João I após a vitória de Ceuta em 1415, criou para seus 2 filhos legítimos os 2 primeiros Ducados de Portugal: o 1º Ducado foi o de Coimbra para D. Pedro, o 2º Ducado foi o de Viseu para D. Henrique, (seus 2 filhos legítimos). Depois D. Pedro, Duque de Coimbra, regente de Portugal entre 1439 e 1446, cria o 3º Ducado em 1442, o de Bragança, para seu irmão bastardo Afonso, Conde de Barcelos, nasc. em 1370, legitimado em 1401, filho de D. João I com Inês Pires, Comendadeira de Santos. Esta Casa de Bragança que começa com um bastardo mais tarde, em 1640, assume o trono português como a Dinastia Bragança com D. João IV, O Restaurador, 3ª Dinastia Real portuguesa à qual pertence D. Pedro I do Brasil, (e Pedro IV de Portugal). Esta 3ª dinastia continua até 1910, terminando com o assassinato de D. Carlos e seu filho e herdeiro Luiz Felipe em 1908 seguidos pelo 2º filho Manuel que assume como Mamuel II até a instauração da Republica .
D. Henrique em 1458, aos 63 anos, ajudou seu sobrinho D. Afonso V, o Africano, (*1432 +1481), a tomar dos mouros Alcácer-Seguer, este foi o seu último feito historicamente registrado.
A 13/11/1460, morre este príncipe sempre retratado de negro e austeramente vestido, que era um sonhador, “que se deixava ficar a pensar num mesmo lugar toda uma noite”, um pouco místico, retraído e pouco afeto às festas da corte que quase não freqüentava, ele que quase nunca bebia vinho. Tendo vivido casto a vida inteira usando o cilício para seu auto-domínio, sua descrição histórica é: era de carnadura grossa, membros largos e fortes, de cor branca e corada, com a cabeleira algum tanto alevantada e sem barba e se parecia com o seu pai e aos que despedia por não se agradar delesdizia, como foi registrado pelo cronista português Zurara:
Dou-vos a Deus ! Sejais de boa ventura.
Bibliografia pesquisada para estruturar este trabalho:
Vida e Obra do Infante D. Henrique, Vitorino Nemésio, Vertente, Porto, 1984, pgs: 7, 8, 9, 14, 15, 16, 22, 24, 33, 56, 57, 61, 103, 130, 131, 135, 137, 152, 161, 164, 165, 166, 167, 169, 170.
Dúvidas e Certezas na Historia dos Descobrimentos Portugueses, Luís de Albuquerque, Vega.
Introdução à História dos Descobrimentos Portugueses, Luís de Albuquerque, Biblioteca Universitária.
Brasil: Terra à Vista, Eduardo Bueno, L&PM, 2003.
Brasil: uma História, Eduardo Bueno, Ática, 2003.
A nacionalidade luso brasileira, Tito Lívio Ferreira, O Estado de São Paulo, pagina 82, 18/1/1970.