MAÇONARIA, uma pequena história


 


 Aníbal de Almeida Fernandes, 2010, atualizado Setembro, 2022.

 

Contexto Histórico: a Europa da monarquia absoluta era regida pela lei estamental, que evoluira de um sistema feudal rígido/imóvel que impunha uma sociedade de classes fechadas e estanques, onde quem era dono de tudo e todos era o Rei e as pessoas só valiam pela sua origem aristocrática, ganha nas lutas medievais, com os fidalgos (filhos d’algo), com seu sangue nobre hereditário, ou com os nobres mais recentes, feitos por concessão real. Esta situação tornava a sociedade uma prisão de valores estratificados pelo tempo que combatia ferozmente as mudanças sociais, que restringiam os burgueses que começavam a ficar ricos.

A maçonaria como agente de mudança social: A burguesia de mercadores de grosso trato cada vez mais rica estava inconformada com sua situação de desprestígio nas Cortes européias e se organizou em Lojas Maçônicas com a intenção de conseguir uma visão liberal do poder e sua inserção social junto ao poder da corte. Na França havia muitos maçons participando da Revolução de 1789 e na Inglaterra havia maçons entre os aristocratas uma vez que, a realeza inglesa com seu Parlamento e liberdade de imprensa não era absoluta como na França, Áustria e Rússia. Em Portugal na época do Marquês de Pombal (1750-1777, reinado de D. José I) o 1º Ministro português que era pragmático e prático, houve um período de vibrante agitação social, pois os mercadores ricos compravam facilmente títulos de nobreza, escudados na força do dinheiro para escândalo da nobreza de sangue e espada, (pois o Rei precisava desesperadamente de dinheiro para manter o luxo/fastio da Corte que estava cada vez mais pobre e dependente de receita). A corte e a velha nobreza de solar estavam falidas depois de gastar/esbanjar todo o ouro e diamantes brasileiros, (entre 1750-1760 veio do Brasil 2,5 milhões de toneladas de ouro e 1,5 milhão de quilates de puríssimos diamantes ou 1.094 toneladas de ouro e 3 milhões de quilates de brilhantes), e não sobrou nada !!!! já que o Marques de Pombal reconstruiu Lisboa às custas dessas riquezas brasileiras após o terrível terremoto de 1755, (quando morreram 40.000 pessoas) um verdadeiro tsunami no séc. XVIII como este do sudeste asiático em 2004 e construiu Mafra mistura de palácio/convento/igreja que rivaliza com Versalhes na grandiosidade e custo. A corte se abriu ao novo fluxo do dinheiro e a velha nobreza de solar se mescla com a nova nobreza dos comerciantes, com atuação forte da maçonaria. O Grande Oriente Lusitano da Maçonaria, a 1ª Loja Maçônica portuguesa, foi extremamente ativo nesta época com a inserção dos negociantes de grosso trato na nobreza da corte, através da compra de títulos abalando as bases da nobreza secular tanto é que, nesses dois períodos (pombalino de D. José I e o de Maria I), foram criadas quase a metade das casas nobres existentes em Portugal.

A sociedade estamental começou a ser abolida na Revolução Francesa até a ruptura final de 1792 com a abolição da monarquia dos Bourbon e a proclamação da República Francesa, que abole os privilégios feudais e altera a base milenar da sociedade estamental, que é regida pela rígida hierarquia das classes desde o século IX. Em algumas monarquias a sociedade estamental perdurou até o séc. XX, como na Russa que só a aboliu na Revolução de 1917.

Origem da maçonaria: a maçonaria se inspirou na Bíblia, na organização dos obreiros empregados na construção do Templo de Salomão que eram divididos em pedreiros, serventes e mestres que são os 3 graus do Rito Simbólico, sendo que no Rito Francês admite-se 7 graus e o Rito Escocês tem 33 graus.

É o conjunto de graus que forma a estrutura das Lojas Maçônicas tanto de Adoniran que foi o Intendente de Salomão para a Construção do Templo (referencia para o Rito Simbólico e o Rito Escocês) como de Hiran que era um trabalhador tírio com virtude, ciência e sabedoria, (apenas no Rito Francês). Oriente é o lugar do Venerável, Símbolo do Ponto sobre o qual nasce o Sol e onde no Templo de Salomão estava o Santo dos Santos.

A Maçonaria como difusora do conhecimento: na época do Iluminismo europeu séc XVIII/XIX a maçonaria favorecia a difusão da cultura científica e valorizava o conhecimento aplicado para a melhoria do bem estar das nações sem distinção dos governos. Na conquista de Portugal pelo General Junot (cuja conseqüência foi a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil em 1808) fazia parte da tropa de ocupação francesa o zoólogo Étienne Geoffroy de Saint-Hilaire que retirou do gabinete (embrião dos futuros museus) de história natural e jardim botânico da Ajuda e de Coimbra, dirigido por Domenico Vandelli naturalista e professor de prestígio, muitíssimos elementos (amostras, espécies, pedras, desenhos, etc) que levou para o Jardin des Plantes de Paris (fundado por Henrique IV em 1593), há uma opinião, não provada, que Saint Hilaire e Vandelli seriam maçons e Vandelli teria favorecido a retirada dos inúmeros itens enviados a Paris para permitir o estudo mais avançado do material levado.

Curiosidade: A ópera de Mozart A Flauta Mágica é considerada um manifesto maçônico do século XVIII pelos símbolos: estrela de 5 pontas, os templos egípcios e a insistência do número 3 (as três mulheres vendadas, os 3 acordes iniciais) e a viagem em busca do conhecimento de Tamino e Pamina.

Maçonaria no Brasil no séc. XIX: a 1ª Loja Maçônica no Brasil foi a Areópago de Itambé em Pernambuco, em 1796. Porém já havia um movimento maçônico em Minas (Tiradentes e os conjurados eram pedreiros livres ansiosos para se livrar das amarras de Portugal) e na Bahia.

No Brasil havia 2 correntes, a de Gonçalves Ledo com o Grande Oriente criado a 28/5/1822 que era liberal e republicana e a do Apostolado de José Bonifácio, que era conservadora e monárquica, porém já tinha um projeto de Constituição política para o Brasil. A 2/6/1822, D. Pedro 1º foi indicado como Arconte-Rei na direção do Apostolado tomando posse à 22/6/1822 com o nome de Rômulo. Depois, D. Pedro 1º entrou como Aprendiz no Grande Oriente com o nome de Guatimozin a 13/7/1822 e 3 dias depois, num golpe de estado de Gonçalves Ledo, foi indicado como Grão-Mestre do Oriente, tomando posse 7 dias após o grito do Ipiranga. Pedro 1º usou ardilosamente a maçonaria para controlar a burguesia que era politicamente muito ativa e rica para fixar no Brasil o seu reino frágil, pobre e contestado furiosamente pelas Cortes de Portugal que não admitiam a perda da Colônia e ameaçavam retomar o Brasil.


Em 1823 Pedro 1º, já Imperador, traiu os Maçons proibindo suas reuniões e atividades. Esta traição nunca foi perdoada pelos maçons que em represália ajudaram no golpe de 7/4/1831 que despachou Pedro 1º para Portugal, deixando o filho no Brasil nas mãos de regentes Brasileiros. Portanto no fim da disputa, José Bonifácio venceu a guerra contra Pedro 1º.

 

Fontes para estruturar esse trabalho:

Informações variadas sobre a maçonaria no Brasil.

O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli, Fundação BNP Paribas.

UOL, 13/9/22















 
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Genealogia e Historia = Autor Anibal de Almeida Fernandes