O Rei do Café: Comendador Joaquim José de Souza Breves
Aníbal de Almeida Fernandes, Janeiro, 2010, atualizado Abril, 2016
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O Comendador Joaquim José de Souza Breves, o Rei do café do 2º Reinado do Império do Brasil, foi Comendador da Ordem da Rosa e Cavaleiro de Cristo.
É filho de José de Souza Breves, nascido nos Açores e de Maria Pimenta de Almeida Frazão. Nasceu em 1804, na fazenda Manga Larga em Piraí, faleceu em 1889, na fazenda de São Joaquim da Grama em São João Marcos, RJ, foi sepultado na Igrejinha pequena e branca com altar de estilo colonial, talhado em madeira, no alto do outeiro, perto do solar da fazenda de São Joaquim da Grama. Nas paredes laterais, três lajes frias, trazem as lápides dos Breves, aí enterrados. A fazenda de São Joaquim da Grama, em São João Marcos, era a sede das propriedades agrícolas que lhe pertenciam, era o solar preferido da família, onde ele acumulava suas riquezas, obras de arte, cercando-se de todo o conforto, era riquíssima em escravos, a enorme senzala, que abrangia as fraldas de um morro, abrigava mais de dois mil escravos.
Foi casado com sua sobrinha, Maria Izabel, filha do Barão de Piraí, José Gonçalves de Moraes e de Cecília Pimenta de Almeida Frazão de Souza Breves, Baronesa de Piraí, (irmã e sogra do Comendador Joaquim José). O Comendador Joaquim José de Sousa Breves e sua mulher Maria Izabel Souza Breves de Moraes, tiveram 8 filhos:
1) Cecília, 2) Saturnina, 3) Leôncia, 4) Maria Isabel, 5) José, 6) Joaquim José, 7) Rita e 8) Mariquinhas.
O Comendador Joaquim José de Sousa Breves foi o mais opulento fazendeiro de café no Brasil Imperial, plantou 5 milhões de pés de café e era proprietário de mais de seis mil escravos, empregava-os nas suas diversas fazendas, onde o serviço reclamasse momentaneamente maior quantidade de braços. O Comendador venceu todos os desafios de sua longa vida, menos a situação criada com a Abolição, fixada por lei de 13/5/1888, quando lutou desesperadamente para se salvar financeiramente. Ainda dias antes, comprava escravos, certo de que, o governo não teria coragem de privá-lo daquela propriedade legal. Após a emancipação empregou o resto de sua formidável energia em reclamar uma indenização do Estado que lhe arrebatara de chofre um capital avaliado em 6.000 contos de réis, tomando por base o preço de um conto de réis por escravo. A abolição da escravidão encerrou a última página da história do café fluminense e de seus grandes senhores. Inclusive decidiu a sorte da monarquia. Os barões do café, sem a escravidão a sustentar as fazendas, perderam sua força financeira e poder, assistindo inertes à proclamação da República.
O Comendador Joaquim José de Sousa Breves media 1,80m de altura, tinha um temperamento impulsivo, ao dinheiro não dava grande apreço, achando que a moeda, redonda como é, foi feita para rodar. Na sua fazenda de São Joaquim da Grama, magaçadas de cédulas do Tesouro Nacional escorriam pelas gavetas entreabertas e uma das criadas graves, velha preta, que assimilara a voz e os gestos da patroa, confessou pouco antes de morrer, que se apoderara sub-repticiamente de muitas dessas boladas, para mandar comprar cosméticos e água-de-cheiro aqui no Rio.
O Inventário do Comendador Joaquim José de Sousa Breves feito em 1891, pela avaliação de 24/2/1890, registrava 18 fazendas com 8.389 alqueires geométricos, com 1.434.200 kg de café em estoque nas tulhas o que daria 23.903 sacas de café, ou seja, a R$ 450,00 a saca teríamos uma fortuna de R$ 10.756.350 milhões em Abr-2016, (em 1890, 15 contos de réis compravam 1 kg. de ouro, pois a República vivia uma tormenta econômica que culmina com o Encilhamento que destrói a economia da população e faz uma quebradeira geral). Antes, em 1860, na época do apogeu do café fluminense (1835-1870), o Comendador colhia por ano 205.000 arrobas de café, ou seja, 1,45% da safra total do país, que fora de 14.125.785 arrobas, (Agrippino Griecco, 1927).
Faço uma conversão para os valores do Brasil de hoje Abr-2016: 205.000 arrobas de café equivalem a 51.250 sacas de café de 60 kg. que vendidas a R$ 450,00 a saca, daria ao Comendador a renda anual de R$ 23.062.500,00 milhões, ou seja, R$ 1.921.875 milhão de renda mensal, ou seja, uma formidável renda considerando que, na época, uma pessoa para ser Senador do Império tinha que comprovar uma renda anual de 800$000 (oitocentos mil réis = R$ 114.400,00 (> 1 gr de ouro = R$ 143,00 – 29/4/16) que era elevadíssima na época, (em 1860 um conto de réis comprava 1 kg. de ouro).
Patrimônio do Comendador, em 24/2/1890, já na total decadência das terras e do café fluminense.
As fazendas umas havidas por herança, outras adquiridas, sucediam-se na formação do patrimônio: Confiança, com seus belos jardins suspensos, Laje, Glória, Alto dos Negros, Parado, Morro do Frade, dantes refúgio de um bandido ferocíssimo, que se disfarçava em um burel de monge, Fortaleza, comprada de quatorze irmãos que mantinham um serralho, com salas gradeadas, portas falsas e subterrâneos, Retiro, Retirinho, Flaviana, Santa Paulina, Matias Ramos, Bela Aurora, Figueira, Bela Vista, Conceição, célebre pelas dezenas de quartos para hóspedes do Rio. Olaria, cópia exata do Palácio do Podestá de Brescia, construída por um arquiteto italiano, ficara sem uso, porque sua mulher não desejava mudar-se da Grama. Ainda Marambaia, Várzea, que pertenceu ao seu sogro, Barão de Piraí - José Gonçalves de Moraes. Esse grande devorador de terras, (o Comendador Joaquim José), chegou a possuir mais de 40 propriedades, construindo um império econômico, onde reinava sem coroa, em prol do desenvolvimento do Brasil. Na velha casa da fazenda de Santo Antônio de Olaria, Pedro I dormira quando de seu regresso do Ipiranga e a cama foi adquirida por uma dama paulista. Não olvidar a enorme chácara que possuía no Rio em frente à Quinta da Boa Vista. Era a chácara da casa amarela na rua Nova do Imperador adquirida de Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, que pertenceu por sua vez à marquesa de Santos, comprada por Pedro I à favorita. Além da casa grande continha cocheira, senzala, cavalariças. De quando em vez, levava uma vida faustosa no palacete da chácara, mas logo voltava aos domínios rurais, onde encontrava a verdadeira razão de sua existência. Suas fazendas se espalhavam ao longo de todos os caminhos, partindo do litoral de Marambaia, entre Mangaratiba e Mambucaba, passando por São João Marcos, Rio Claro, Piraí, Passa Três até o vale do médio Paraíba. A fazenda de São Joaquim da Grama era a sede de suas propriedades, era o solar preferido da família, onde acumulava suas riquezas, obras de arte, cercando-se de todo o conforto, riquíssima em servos, plantio, gado e casario. O prédio, de estilo colonial era uma antologia viva do gosto arquitetônico. Estatuetas, azulejos, trabalhos de talha, móveis raros, porcelanas caras, competiam com os relevos de cantaria de fachada, trabalhados por um orifício, que se esmerava em arabescos alegóricos, caprichosos como um ourives de pedra bruta.
INVENTÁRIO
O Comendador Joaquim José de Sousa Breves é tio-avô de Clara de Moraes Niemeyer (Clarinha) c.c. Marcos Vieira da Cunha, meu primo, (pois é 5º neto do Casal Antonio da Cunha Carvalho e Bernarda Dutra da Silveira, meus 6ºs avós) e que foi dono das fazendas: Sto. Antonio, Campos Elíseos e Guaritá, que restaurou em Vassouras/Valença, RJ.
Clarinha (1915-2007) é afilhada de batismo de minha tia Luisa Arantes de Almeida, (1891-1936), pois o pai de Clarinha, Luiz de Moraes Niemeyer, n. 2/5/1883, bisneto do Barão do Piraí, quando migrou de Vassouras devastada pela decadência do café, foi recebido por meu avô Joaquim em Araraquara, SP, tendo trabalhado como advogado para vovô, que também viera de Vassouras em 1890, e já estava bem financeiramente sendo proprietário de uma fazenda de café (Baguary), uma loja para venda de material agrário e um hotel. Em agradecimento a vovô Joaquim pela acolhida em Araraquara a filha dele, Clarinha, foi batizada pela filha mais velha de vovô, minha tia Luisa.
FAMÍLIA SAVARY-BREVES
Existem bons sites internacionais de heráldica que trazem o brasão da família Savary, detentora do condado de Breves, na França, usado por François de Breves-Savary, que seria o ancestral dos Breves franceses, açorianos e brasileiros. Mas essa ligação dos Breves franceses com os Breves brasileiros é puramente conjectural, sem uma base documental sólida.
CONDE HARITOFF
Élio Gaspari, Folha de São Paulo, Agosto, 2004, (sic):
Morreu no dia 25 de junho de 2004, na Santa Casa de Barra do Piraí, Iwann Haritoff. Tinha 92 anos, não deixou centavo e levou consigo o testemunho de um curioso episódio da vulnerabilidade daquilo que se gosta de chamar de elite brasileira e da beleza da vida nesta terra.
Iwann foi filho do conde russo Maurice Haritoff, um dos rapazes dourados da corte de Napoleão III em Paris. O conde veio ao Brasil em 1866 acompanhando uma irmã que se casara na aristocracia cafeeira do Vale do Paraíba. No ano seguinte, Maurice Haritoff casou-se com a sobrinha do comendador Joaquim de Souza Breves, que foi o homem mais rico do Brasil de todos os tempos. Juntou 52 fazendas e mais de 5.000 escravos. Haritoff tinha 25 anos e Ana Clara (Nicota), sua mulher, 17. Conversavam em francês.
Quando estourou a Guerra da Criméia, Haritoff alistou-se nas tropas russas. Retornou trazendo para a mulher um magnífico chale para noites de gala. O casal encantou o grão-duque Alexandre em sua passagem pelo Brasil. O palácio em que viviam em Laranjeiras (no terreno onde hoje funciona a escola José de Alencar) foi o salão da imperial granfinagem. Suas portas abriam-se às terças-feiras (le Mardi de Mme. Haritoff). Vestiam os criados como cossacos.
Maurice e Ana Clara não tiveram filhos. Ela morreu em 1894, aos 44 anos. Viveram aquilo que seria um conto de fadas europeu nos trópicos. A esse conto de fadas seguiu-se a história brasileira, bagunçada e bela. Diz a lenda branca que Nicota morreu de desgosto, obrigada a conviver com o romance de Maurice com uma mucama. Precursora da Nega Fulô do poeta Jorge de Lima, a negra Regina nasceu escrava, em 1867.
Tendo sabido ser rico e conde, Haritoff soube empobrecer como um cavalheiro. Casou-se com Regina em 1906. Nessa época já tinham dois filhos: Boris e Alexis. Boris, Aléxis e Iwan foram os únicos mulatos pobres da nobreza russa. Existe uma fotografia de Regina com as duas crianças, usando um lindo vestido, provavelmente colhido no espólio de Nicota.
Iwann Haritoff sustentou-se como pequeno comerciante e biscateiro. Como um tio russo, perdia tudo nas cartas. Pouco falava da história de seu pai e chegava a duvidar de que fosse verdadeira. Enterraram-no em cova rasa, por não ter parentes próximos, apesar de o andar de cima nacional estar cheio de descendentes dos Breves.
Nascido na decadência do café, Iwann viveu o descaso que assombra o patrimônio histórico nacional. A Fazenda do Pinheiro, onde Ana Clara e Maurice Haritoff se conheceram, foi doada (repetindo, doada) ao governo federal. Hoje é vergonhosa ruína. A Universidade Federal Fluminense e o Ministério da Agricultura dividem a irresponsabilidade da destruição da casa-grande e das suas terras, invadidas por baixo por favelados e por cima por condomínios. A igreja da Grama, onde os Breves planejaram descansar em criptas nobiliárquicas, foi saqueada. Levaram o sino, o assoalho e a escada do púlpito. Depois que a polícia varejou-a à procura de um corpo desaparecido (o da ricaça Dana de Teffé) os moradores foram transferidos para o cemitério de Barra do Piraí. A juventude do pedaço transformou a igreja num "point" sobrenatural. Dizem que Joaquim Breves anda por lá à noite, de japona. Há rapazes que se divertem deitando-se no jazigo do comendador.
Os ícones da Santa Rússia e os orixás do Vale do Paraíba imploram ao poeta Afonso Romano de Santana que não abandone a história do conde Haritoff e suas duas mulheres. Explica-se: Ele se interessou pela história e já acumula algumas dezenas de fotografias, cartas e documentos relacionados com a vida de Maurice, Ana Clara e Regina. Ainda não se comprometeu a escrever sobre o assunto. Trata-se de um caso raro de samba-enredo que nasceu pronto.