Honra no Império: o caso das Louças.

Aníbal de Almeida Fernandes, Dezembro, 2009.

O 2º Barão de Ipiabas (a 22/7/1882), Francisco Pinheiro de Souza Werneck, (meu contra primo pelos Werneck) era filho do Visconde de Ipiabas (a 17/6/1882), Peregrino José de América Pinheiro, que foi um dos maiores fazendeiros fluminenses e que era irmão de Francisca casada com Joaquim d’Almeida, Barão de Almeida Ramos (a 18/1/1882) que, por sua vez, é primo 2º de meu avô, Joaquim Rodrigues d’Almeida, ou seja, o 2º Barão de Ipiabas é meu contra-primo pelo meu bisavô.

O 2º Barão de Ipiabas desistiu do café, por causa da decadência dos cafezais fluminenses que perderam quase todo o valor a partir de 1880, provocada pela exaustão da terra e da iminência do término da escravidão. Vendeu todos os seus bens em Valença, por 300 contos de réis (que equivaliam a 20 kg. de ouro em 1890 e, hoje em dia, com a gr. de ouro a R$ 50 teríamos R$ 1.000.000,00) e se mudou para o Rio de Janeiro. O 2º Barão de Ipiabas para ter renda após a proclamação da República empregou-se como funcionário público e, quando quis assinar como Barão de Ipiabas, foi impedido com rispidez pelo funcionário da repartição, pois havia uma perseguição aos antigos titulares ligados ao Imperador.

Logo após a República havia uma grande hostilidade para com os titulares do Império que, muitas vezes, eram ridicularizados e tinham que omitir suas ligações com o Império. Houve exceções, pois o Barão do Rio Branco (a 16/5/1888) assinou como Barão até a sua morte. Algumas famílias ligadas ao Império, em sinal da profunda perda causada pelo exílio da Família Imperial, tomaram como hábito que as mulheres se vestissem sempre de preto, como foi o caso de minha avó Bernardina.

O dinheiro apurado pelo 2º Barão de Ipiabas com a venda de suas fazendas foi posto no Banco do Brasil, que foi levado a uma espécie de falência (Encilhamento, 1891, devido ao grande movimento especulativo que eclodiu na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, foi chamado assim por conta do encilhamento dos cavalos antes do páreo no Hipódromo, quando a atividade dos apostadores fica frenética) provocada pela emissão de 450 mil contos de réis sem lastro real para pagamento dos escravos libertos (que agora ganhavam pelo trabalho) e dos imigrantes e, também, para estimular a criação de novas empresas que, na rapidez do processo, não tinham estrutura operacional para prosperar. Isto fez a inflação disparar e surgiram muitos golpes especulativos, tudo por conta da ânsia do Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, de industrializar o Brasil e favorecer os banqueiros. Este Encilhamento do Banco do Brasil deixou na miséria muitos depositantes, entre eles, o 2º Barão de Ipiabas. Para sobreviver, o casal resolveu leiloar a louça da família e, para isso, a Baronesa de Ipiabas organizou um leilão em sua casa. No dia escolhido caiu uma chuva muito forte e o leiloeiro aconselhou à Baronesa de Ipiabas mudar o leilão para outro dia, porém ela não achou correto fazer tal desfeita aos interessados, pois já haviam anunciado o leilão e não seria ético/honroso voltar atrás cancelando o leilão. Deve-se ponderar que, para os padrões sociais de uma cultura aristocrática, a honra estava acima de qualquer lei. Pouquíssimas pessoas vieram e, entre elas, o 3º Barão de Itapagipe (a 14/8/1877), FranciscoXavier Calmonda Silva Cabral, que ficou interessado nas belíssimas louças, pela coincidência das iniciais gravadas do Barão de Ipiabas, (BI),que combinavam com as suas, Barão de Itapagipe, (BI),o que faz com que ele arremate o lote por 3 contos de réis, um preço baixíssimo considerando a alta qualidade da louça Limòges. Uma semana depois do leilão, a Baronesa de Ipiabas recebe o pedido formal de uma visita por parte do Barão de Itabagipe. Ela concede-lhe a permissão e o convida para um chá no dia seguinte. O Barão de Itabagipe, após o chá, pede desculpa à Baronesa de Ipiabas por ter arrematado as louças por tão pouco e informa à Baronesa que havia mandado avaliar as peças e que o preço correto era de 6 contos de réis e, portanto, o Senhor Barão de Itapagipe pedia à Senhora Baronesa de Ipiabas que lhe fizesse o favor de aceitar um outro cheque de 3 contos de réis para o pagamento correto da louça.

 

(Atualização de valor: 6 contos de réis equivaliam a 400 gr. de ouro em 1890 e, hoje em dia, com a gr. de ouro a R$ 50 teríamos R$ 20.000,00 que é apenas 63% do valor de uma baixela Limòges modelo Boulle com 30 peças vendida na loja de presentes Mickey por R$ 31.668,00 em Dez/09).

 

Fontes pesquisadas para estruturar este trabalho:

#Primária: Fato contado por Marcos Vieira da Cunha (meu primo) a Anibal de Almeida Fernandes na saída do vernissage das aquarelas de SAIR Dom Pedro Henrique, na agência do Banco Itaú, na Av. Brasil, em 1981, SAIR Dom Pedro Henrique morreu neste mesmo ano. Foi a última visita do Imperador (como Marcos e eu chamávamos D. Pedro Henrique de Orleãns e Bragança) a São Paulo em companhia de SAIR Dona Maria da Baviera a quem já viúva, em 1989, eu apresentei protocolarmente minha filha Ana Tereza (12 anos) no Clube São Paulo, av. Higienópolis, comemorando os 100 anos da apresentação formal de Joaquim e Bernardina, recém casados, meus avós e bisavós de Ana Tereza, a SMI D. Pedro II no Paço Imperial tendo por padrinhos, conforme exigia o protocolo imperial, osBarões de Muritiba, (que os acompanharam, meses depois, ao baile da Ilha Fiscal, a baronesa era madrinha de crisma de vovó Bernardina. Os barões de Muritiba acompanharam a Família Imperial no exílio).

#Duque de Caxias, Adriana Barreto de Souza, pg. 253, Civilização Brasileira, 2008.

#Revista VEJA, Especial LUXO, Dezembro, 2009.

#VASSOURAS a Brazilian Coffee County, 1850-1900 Stanley Stein, Harvard University, 1957:

retrata de maneira clara e objetiva o começo, formação e início da decadência de Vassouras, quando terminam as matas virgens para derrubar e plantar e a rotina míope dos vassourenses que não adubam ou cuidam de proteger a terra onde plantam; e eu nunca tinha lido sobre a confusão e decadência que causou a implantação da estrada de ferro (D. Pedro II) para as vendas e comércio da estrada de terra (Estrada da Polícia). Também me impressionou a mudança das tropas de mulas (cada uma com 9 arroubas) que custavam 33%!!!!!!!!! do que valia o café para transportá-lo até o Rio e quando chega o trem que facilita tudo e fica rei o carro de boi que carregava 100 arroubas até as estações e derruba o custo do transporte e a perda de café e mulas nos constantes acidentes anteriores e Vassouras fica riquíssima e muito sofisticada no seu modo de vida.

Pg 226 os escravos entre 1857-58 valem 73% do valor da fazenda.

Pg 246 em 1882 o escravo é o que vale nas fazendas, pois tem liquidez e as terras estão exauridas.

Pg 247 as propriedades em 1888 desvalorizam 10 vezes em relação a 1860 e o escravo tem valor zero na composição do valor das fazendas, por conta da Lei Áurea.

Pg 251 estima m 500.000 escravos libertos em maio/1888.

pg 260 estima em 500 mil contos de réis a necessidade de dinheiro.

Pg 286, 287, 288: o pasto invade os cafezais e o êxodo das famílias dos antigos fazendeiros segue firme.

Pg 293

em 1825 > 1US$ dolar = 1 conto de reis e passa a equivaler em:

1850 > 0,58US$ dólar = 0,58 conto de reis

1900 > 0,19US$ dólar = 0,19 conto de reis

Pg 294 estima a população do Brasil em 4 milhões de hab. em 1823 e estima em 17.319.556 hab. a população em 1900

Pg 295 estima em 1887 > a existência de 637.602 escravos

 

 
















 
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Genealogia e Historia = Autor Anibal de Almeida Fernandes