JOÃO RAMALHO e SÃO PAULO séc. XVI a XVIII


Autor: Aníbal de Almeida Fernandes,

                      Texto inicial: Abril, 2000,


última atualização: Dezembro, 2022.


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Lendo, com bom senso e critério comparativo, Gilberto Leite de Barros (GLB), Alcântara Machado (AM), Vianna Moog (VM), Nelson Omegna (NO), Eduardo Bueno (EB), Cândido Mendes (CM), Carlos da Silveira (CS) e Francisco de Assis Carvalho Franco (CF), Caio Prado Jr., Revista Genealógica Latina nº 6 do Instituto Genealógico Brasileiro (RGL-nº-6-IGB) e, apenas registrando o que eles informam, se obtém uma realidade muitíssimo diferente do conceito habitualmente difundido que "empresta à sociedade paulista dos dois primeiros séculos o luzimento e o donaire de um salão de Versalhes com homens muito grossos de haveres e muito finos de maneiras, opulentos e cultos, vivendo a lei da nobreza numa atmosfera de elegância e fausto" como descreve Oliveira Viana (OV), a São Paulo dos séculos XVI, XVII e XVIII. Para Alcântara Machado, "só a fantasia delirante de um deus seria capaz desse disparate esplêndido"Sem dúvida, os números da economia brasileira nos Sec XVI/XVII, fazem com que as descrições do Brasil de Alcântara Machado sejam muito mais realistas do que os delírios de Oliveira Viana.


Abaixo temos uma resenha de todos esses livros para informar/orientar quem tem um real interesse histórico e capacidade de raciocínio comparativo e, alem disso, é atilado, perspicaz e conciso, para apreender/aprender a verdade histórica enquadrando-a nas reais circunstâncias geográficas, econômicas e sociais da época, sem fantasias delirantes que possam romantizar a dura realidade sobre a  maneira de contar o começo de São Paulo. Sem dúvida há que se destacar a bravura, a coragem, o destemor e a tenacidade dos portugueses que para cá vieram, uma vez que as condições da viagem eram abaixo de crítica e havia um perigo real de morte com os barcos super incômodos e com as técnicas marítimas primárias que não davam nenhuma segurança, nem quanto ao tempo de viagem, nem quanto à certeza de chegar ao Brasil e, alem do mais, as condições cá na terra, com índios hostis, doenças tropicais que eram uma prova diária de sobrevivência para os que aqui chegavam para viver. Esta deve ser a abordagem historicamente mais correta, mais inteligente e, sem dúvida, mais honesta ao se descrever o selvagem e arriscado cenário inicial para os moradores de nosso Brasil nos 3 séculos iniciais, sem forçar uma gênese de pura e sofisticada nobreza como foi enfatizado.

Cidade Colonial: Nelson Omegna, pg - 186


Caio Prado Jr. primeiro grande intelectual marxista brasileiro, soube aplicar o materialismo histórico para pensar o Brasil sem transformá-lo em uma camisa-de-força teórico-ideológica, mas usando-o de forma criativa como um método crítico, aberto e dialético e sua análise da natureza da colonização brasileira diz que, foi uma colonização de exploração mercantil em vez de uma colonização de povoamento como ocorreu no Nordeste dos Estados Unidos, é uma das análises mais esclarecedoras do Brasil e dos fundamentos do seu atraso econômico. Caio Prado estabelece a diferença entre as colônias de povoamento, como a dos EUA, que reconstituem no Novo Mundo uma sociedade à semelhança do modelo europeu, e as colônias tropicais, como a do Brasil, onde surgirá uma sociedade original. Ele explica: A colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização portuguesa. Seu livro, Formação do Brasil Contemporâneo, colocou Caio Prado ao lado de Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre como um dos grandes intérpretes do Brasil. Tornou-se um clássico, no sentido de obra que ainda é viva e que, portanto, dialoga com historiadores contemporâneos.

Nota: Caio Prado Jr. reconhecia que a monarquia, durante os anos de Império, garantiu a unidade e a estabilidade do Brasil, sempre apoiada na aristocracia rural (Oliveira Vianna) que continha em seus quadros o que havia de mais culto no Brasil e evitou exemplarmente a desordem completa de nossos vizinhos sul-americanos, vivendo sob ditadura ou desenfreada demagogia.

Vianna Moog de maneira crua e lapidar assim coloca: os portugueses que vieram ter primeiro às terras de Santa Cruz, vinham sem a mulher, sem os filhos e sem os haveres, traziam já os olhos demasiadamente dilatados pela cobiça, eram conquistadores não colonizadores, juravam não trabalhar e ninguém embarcava para o Brasil senão com o pensamento de enriquecer depressa e voltar mais depressa ainda,

Vianna Moog: Bandeirantes e pioneiros, pg. 118


havia um sentido predatório, extrativista na formação brasileira e os bandeirantes iam e tornavam não se fixavam nunca nos territórios percorridos, antes despovoavam que povoavam trazendo índios dos lugares que habitavam, causando sua morte em grande número ora com maus tratos ora pelas doenças e epidemias que disseminavam entre os índios. Em sua sede de ouro, eram completamente desprevenidos de virtudes econômicas, espírito público e vontade de autodeterminação política. Não havia mundo menos moral que a bandeira. Para começar o seu móvel principal, senão único, era a cobiça. Cobiça e luxúria, caça ao índio e à fêmea e imperava unicamente a lei do mais forte, o princípio da autoridade, bem ilustrada por Fernão Dias Pais mandando matar o filho mestiço por insubordinação. Até meados do séc. XVII e começo do séc. XVIII o termo brasileiro como expressão e afirmação de uma nacionalidade, era praticamente inexistente. Os filhos de portugueses nascidos no Brasil eram os mazonbos, categoria social à parte a que ninguém queria pertencer, tanto é que o filho do reinol não vacilava em reivindicar o nascimento no Reino, amparando-o em nobres ancestralidades.

Fato sintomático entre os 4 primeiros povoadores brancos, dois eram degredados. Mas, terra para explorar ou refúgio de trânsfugas e fugitivos o Brasil não passava de intermezzo de aventuras, para os donatários, para os governadores-gerais e para a corte de D. João VI.

Cidade Colonial: Nelson Omegna, pg 119


1º) O que era Piratininga, [depois São Paulo], não passa de um lugarejo humilde habitado por um Bandeirante, pobre e analfabeto e grosseiro de modos e de haveres parcos, vivendo quase na indigência (AM). Em 1606 tinha 190 moradores (GLB) e não passa por longos anos, de miserável aldeia (AM), pois não interessava à Coroa Portuguesa a expansão da agricultura em regiões longínquas do litoral. D. João III dificultou a entrada no campo, reservando-o para o tempo futuro quando estivesse cheia e bem cultivada a terra vizinha aos portos, nos dois primeiros séculos, (GLB) a intenção era consolidar o litoral para protegê-lo dos ataques externos, principalmente de franceses e holandeses. Com a corrida para as minas de ouro em 1748 a capitania de São Paulo, praticamente acaba com o êxodo que acontece e entra em brutal decadência só vindo a ser restaurada em 1765, graças ao açúcar e às tropas de mulas que eram a companhias de transporte da época. Nos 3 séculos iniciais do país, XVI/XVII/XVIII, a única riqueza de São Paulo era o tráfico de escravos índios, pois era uma vila miserável que sobrevivia à margem da civilização, totalmente isolada pela difícil situação geográfica por conta de uma serra quase intransponível e só em 1792 tem o acesso melhorado com a construção da calçada de Lorena, alargada e pavimentada, que foi assim descrita: uma ladeira espaçosa que permite subir com pouca fatiga e se descer com segurança (Frei Gaspar), porém era interrompida no trecho de Cubatão até Santos que continuou a ser feito por canoas até 1827.



Fonte: Anais da Biblioteca Nacional, V. 73, pg 208:





Enquanto bandeirante, e por causa das bandeiras, São Paulo era um dos estados mais pobres e atrasados do Brasil. Somente depois de definitivamente encerrado o ciclo das bandeiras e só com o advento do ciclo do café e, no fim do séc. XIX, com a imigração de tipo pioneiro (vir para ficar) com mais de 100.000 imigrantes por ano é que São Paulo passa para a vanguarda da Federação. (VM).

 

2º) O tipo de população de São Paulo:

# Um núcleo de cabos de sertão, gente sem preparo e aptidão, gente predatória e instável e despovoadora. (GLB).

# Os paulistas aceitariam até as mulheres erradas de Portugal, ou seja, as putas portuguesas, tal a carência de mulheres brancas (AM citando carta do Padre Manoel da Nóbrega).

# São homens do campo, mercadores de recursos limitados, artífices aventureiros de toda a casta, seduzidos pelas possibilidades com que lhes acena o continente novo (AM).

# Mestiços de negros e índios com brancos, no geral, aventureiros assassinos (Herrera: cronista uruguaio do século XVII).

# O paulista salientou-se como traficante de escravos índios, só entre 1628 e 1630, está provado que os paulistas roubaram e venderam como escravos 60.000 índios (GLB).

# Era uma raça descendente de condenados deportados dos diferentes povos da Europa e de mulheres indígenas (GLB).

# No fim do séc. XVIII o Capitão-General (Morgado de Mateus, 1765-1775) informa El Rey sobre os paulistas: é a pior gente do mundo: relaxada, indolente, orgulhosa, selvagem e estúpida (AM).

# Outro exemplo típico é Santo André da Borda do Campo, Visto como um verdadeiro covil de ladrões por Ulric Schimitt pirata alemão. (NO).

# Porque nisto de emprestar ao bandeirante, atributos que ele nunca teve, o paulista de quatrocentos anos é um perfeito ianque. Se, para valorizar o símbolo que lhe é caro, for preciso atribuir ao bandeirante atributos orgânicos, ele o atribuirá, se para magnificá-lo for preciso torcer a história, ela a torcerá. Pierre Monbeig em tese de concurso, premiada pela Sorbonne em 1952, pondera: isso foi extremamente importante, pois criou o mito do Bandeirante cuja eficácia psicológica é certa.(VM).

3º) A Pretensão à nobreza: A nobreza paulista se entrelaça na descendência de João Ramalho, que teria vivido 99 anos??? numa época onde o europeu vivendo nos trópicos que conseguisse chegar aos 40 anos já era considerado um fenômeno por conta das febres, malária, bouba, opilação, tétano e disenterias que dizimava o estrangeiro. Esta nobreza é descrita por Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) que é um personagem muito controvertido, uma vez que escrevia, 200 anos depois, por dinheiro para famílias que queriam registrar um passado de glória, ele foi preso por desfalque dos cofres públicos e morre sem ser perdoado pelo rei de Portugal, ele se baseia em documentos de 1500 e 1600 que depois foram perdidos!!!! não podendo ser comprovados???? Pedro Taques foi responsável, em 1770, por grave desfalque nas contas publicas que gerenciava como tesoureiro-mor da Bula da Cruzada das capitanias de São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Em 1774 vai para Lisboa tentar a clemência do Rei, porem não é recebido e volta doente (paralisia) morrendo sem perdão e com o nome desonrado e na mais extrema miséria a 3/3/1777. (RGB-nº-6-IGB). Silva Leme (1852-1919), em sua Nobiliarquia Paulistana (1901-1905), 138 anos depois, já informava que a maior parte das fontes pesquisadas por Taques haviam sido perdidas ou se deterioraram irremediavelmente, ou seja, não há possibilidade de nenhuma análise técnica séria, hoje em dia, para a confirmação das informações feitas pelo Taques. (RGL-nº-6-IGB)

Alfredo Ellis Jr informa que Balthazar de Moraes de Antas, (12º avô de Anibal) foi o único morador do Brasil a ter comprovação de nobreza de 1ª linha e pureza de sangue no séc. XVI. Balthazar a 23/11/1580 teve na Bahia o reconhecimento dos sinais de Comprovação de Nobreza e de pureza de sangue por Cosme Rangel de Macedo, Ouvidor Geral de toda a costa do Brasil e São Vicente (este documento está registrado em, Títulos 1530-1805, do Arquivo Heráldico e Genealógico, do Visconde Sanches de Baena) (GLB). Foi registrado, também, na Câmara Municipal de São Paulo em 1670 e pode ser consultada no Arquivo Histórico de São Paulo.



# O português fundador de nossas cidades era marinheiro, soldado, mercador, padre, judeu andejo, homem sem pendor à vida sedentária e, somado ao índio estradeiro, criou o Bandeirante, o minerador, o tropeiro, o comboieiro, o carreteiro e o mascate (NO).

# (sic) "Sua Magestade podia se valer dos homens de São Paulo, fazendo-lhes honras e mercês, porque são homens capazes de penetrar todos os sertões e não lhes é molesto andarem pelos sertões, anos e anos", é sabido que em Portugal no séc. XVI escasseava a população e na 1ª metade do séc. XVI, parte ponderável da população de Lisboa era de escravos negros, por conta das perdas com expedições marítimas (GLB).

# As enumerações de, Pedro Taques e Silva Leme, a respeito dos títulos e atributos de fidalguia, são bastante precárias, pois numerosos elementos de classes inferiores, em pagamento de serviços prestados ao Rei, foram elevados a cavaleiros, porém, apesar disso, no dizer de Fernão Lopes, fossem "filhos de homens de baixa condição, que não cumpre dizer" (GLB).

# Alfredo Ellis Jr. informa: Se é verdade que um ou outro povoador procedia por algum ramo de sua complicada ascendência (notar o descrédito) de uma genealogia fidalga do reino, não sem passar, porém por muitas bastardias e através de muitos cruzamentos com elementos afro-asiáticos e árabes-bérberes, e ia chegar aos primitivos heróis peninsulares, onde esses poderiam ser contados nos dedos, tão resumido o seu número!(GLB).

# Pero Leme (os irmãos Leme eram facínoras desalmados, conforme Paulo Setúbal, baseado em documentos da época) que Pedro Taques diz ser fidalgo muito antigo nos livros de El Rey era um indigente e seus haveres são: um colchão, um travesseiro, duas redes, uma caixa preta, um espelho, um jarro de vidro, uma cadeira de espaldar cuja metade é de sua filha Leonor Leme.(AM com ironia e total descrédito da Nobiliarquia Paulistana, pergunta: que jornaleiro se contentaria, na atualidade, com esse punhado de trastes e utensílios domésticos?).

# Eduardo Bueno (EB) pondera que: Homem tão influente e rico, dificilmente iria se expor aos perigos do mar e às agruras de uma viagem oceânica, quando se refere ao judeu Fernando de Noronha, (que foi arrendatário do Brasil entre 1502 e 1505, quando devastou as florestas do litoral na captura do pau Brasil em árvores que chegavam a 30 m., num total anual de 1.200 ton.) e pode ser generalizado para outros ricos e influentes do reino e, principalmente, fidalgos de verdade! titulares chefes de família da nobreza natural de solar, ligados à Corte e girando em torno dela.

# Sobre o primeiro Bueno, Carvalho Franco, diz que era um carpinteiro da armada de Valdez, contratado num local chamado Ribeira e, no entanto, fizeram deste Bartolomeu Bueno da Ribeira um nobre de Sevilha e o seu filho Amador Bueno, que quase foi Rei de São Paulo, era na verdade um fabricante de chapéus, analfabeto, que assinava com uma cruz ou X como queiram (AGB, Ano VI pg. 55 e 56).

# Dos 400 inventários seiscentistas, há apenas 20 que descrevem alguma abastança, daí se conclui quanto se distanciam da realidade os que se fiam cegamente na palavra dos linhagistas, (Pedro Taques+Silva Leme).(AM).

# Quando nos deixamos guiar pelos documentos dos velhos tempos e aceitamos a designação de nobres dada a certos homens, sentimos que uma certa fantasia foi usada pelos velhos cronistas (Pedro Taques+Silva Leme) ao distribuir aqueles títulos e graças (NO).

# Há toda uma série de artifícios manipulada, consciente ou inconscientemente no redoirar a prosápia de muitos conceituados nobres de nossos antigos linhagistas (Pedro Taques+Silva Leme).(NO).

4º) Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de Mateus (1765-1775), Capitão General da Capitania de São Paulo, chega em Piratininga em 1765 e só então começa a ser organizada a vida administrativa e social em São Paulo, com o povo tomando consciência de si mesmo:

A cidade tinha 392 moradias, com 648 homens e 867 mulheres e a economia era só comércio de mulas e cavalos, sendo que os negociantes eram nada mais que caixeiros dos negociantes do Rio, porém, graças a esses tropeiros, a sociedade paulista, posto que pobre, já não se apresenta miserável como no século anterior (GLB). Nessa época, para efeito comparativo, Ouro Preto, em Minas Gerais, tinha 120.000 habitantes, e um luxo, riqueza e uma vida cultural de cidade européia, em pleno apogeu da extração do ouro e brilhantes.

# Trabalhavam os paulistas, de má vontade como notava em 1788, Arouche Rendon que informa que, um lavrador paulista trabalha no ano de dois a três meses por ano. A par disso, antes de iniciar qualquer empresa, bebia, metia-se na caninha. Arouche, cujo depoimento é de grande valia para verificação dos costumes da época, encarecia os malefícios da bastardia desenfreada dos filhos sem pais conhecidos, desprovidos de um juiz de órfãos para tutelá-los. O futuro Marechal apontava os dois males que distraem o povo do trabalho e que arruínam o comércio: o jogo de dados e a dança, sobretudo no sertão.(GLB).

# O mal residia no baixo padrão cultural de um povo estabelecido em região excessivamente distante dos demais centros do país, colocada em um planalto, cujo acesso ao mar tornava-se quase impraticável.(GLB); imaginemos a incrível dificuldade para que os bens de consumo subirem a serra nas costas de índios ou no lombo de burros em meio à chuva e aos ataques dos índios inimigos.

# Negociando com muares# (mulas), o paulista armazenou boa parcela dos recursos com os quais viria a semear lavouras de açúcar e de café. Muitas fortunas de São Paulo originaram-se desse lucrativo intercâmbio comercial (que eram as empresas de transporte da época), iniciado no Setecentismo e continuando ininterruptamente no século XIX, com muitos chefes de grandes famílias paulistas.(GLB)

# Maria Cecília Naclério Homem, informa: entre os negociantes de muares o 1º Barão de Iguape, Antonio da Silva Prado, que era comerciante e tropeiro, pai de Veridiana da Silva Prado, casada com seu tio/primo, Martinico da Silva Prado (a casa deles era onde está, hoje, o Iate Clube de Santos, ex-Clube São Paulo, na Avenida Higienópolis) deu um baile, em 1861, para comemorar a formatura de seu filho na Escola de Direito e, não convidou a Marquesa de Santos*: Domitila de Castro Canto e Melo Aguiar de Barros porque, por causa do seu passado, ela sofria restrições da melhor sociedade paulista !!!

* Gloria Kaiser, informa: na Corte Imperial corria a história de que, apesar dos muitos bens que a Marquesa de Santos angariara, através de D. Pedro I, ela esbanjara quase tudo e de raiva dera os presentes que ganhara do Imperador aos seus criados e a portugueses que lhe eram leais, antes de desaparecer no interior do Brasil, (era assim que a Corte qualificava São Paulo) e casar com Tobias Aguiar de Barros, onde morre em 1867.

5º) João Ramalho: visto por escritores, cronistas e cartas de jesuítas.

Historia Vida Privada no Brasil, pg. 233 - Ronaldo Vainfas


# O soturno degredado fugitivo ou náufrago João Ramalho tinha, muitas concubinas, a principal delas era Bartyra, (EB), portanto sem o controle de registros documentais que eram inexistentes na época é difícil definir quais os filhos de Bartyra.

# O pirata Ulrich Schimedel em 1553, ao passar por Santo André, achou-a com aspecto de um covil de bandidos e ficou aliviado ao saber que Johanes Reimelie (João Ramalho) não estava lá, mas no sertão, escravizando índios.(EB).

# Aliás, o tráfico de escravos que João Ramalho inaugurou, fez São Vicente (conhecida como Porto dos Escravos, graças a João Ramalho), e São Paulo as 2 cidades mais importantes do sul do Brasil.(EB).

# Se João Ramalho infundia temor em homens como esse pirata alemão, é fácil supor o que acharam dele os jesuítas. Em 1553 o padre Manoel da Nóbrega dizia que a vida de Ramalho era uma petra scandali, pois tem muitas mulheres e ele e seus filhos andam com as irmãs (de suas esposas) e tem filhos delas. Vão à guerra com os índios e seus gestos são de índios e assim vivem, andando nus como os mesmos índios. (EB). Ele é o patriarca dos mamelucos que gerou uma série de filhos mestiços que mais tarde comporiam as bandeiras paulistas e revelariam violência inigualável na escravização dos indígenas do sertão.(EB).

# E tem tantos filhos, netos e bisnetos que não ouso dizer à Vossa Alteza, informa ao Rey, Tomé de Souza (EB) o que deixa muito complicada a genealogia correta de seus descendentes, apesar dos escritos de Pedro Taques;

# Quando a Inquisição inicia a perseguição aos judeus no Brasil o mameluco de Santo André ameaça: "acabarei com a Inquisição a frechadas". Os fatos se incumbem de demonstrar aos descendentes de João Ramalho que a fera não se deixa matar tão facilmente, (AM), João Ramalho era um judeu sefaradim.


Fonte documental: Anais da Biblioteca Nacional, vol. 73, pgs: 201 a 241:



 








A meu ver, João Ramalho é o primeiro empresário bem sucedido no Brasil, pois era tão influente e poderoso com seu tráfico de escravos e controle sobre os índios do interior que Martim Afonso, em 1533, o faz Guarda-Mor da Borda do Campo.

6º) Carta: Ir. José de Anchieta ao Padre Inácio de Loyola, São Paulo de Piratininga, 1/9/1554.

(sic) De facto, alguns cristãos filhos de pai português e mãe brasílica, que estão apartados de nós 9 milhas numa povoação de portugueses, não cessam nunca de esforçar-se juntamente com o pai por lançar a terra a obra que procuramos edificar com a ajuda de Deus pois exortam repetida e criminosamente os catecúmenos a apartarem-se de nós e a crerem neles, que usam arco e frechas como os índios, e a não fiarem em nós que fomos enviados aqui por causa de nossa maldade. Com esses e semelhantes coisas conseguem que uns não creiam na pregação da palavra de Deus e que outra que parecia já termos encerados no redil de Cristo voltem aos antigos costumes e se apartem de nós para viverem mais livremente. Os nossos irmãos tinham gasto quase um ano e meio a doutrinar uns, que distam de nós 90 milhas e eles, renunciando aos costumes gentílicos, tinham resolvido seguir os nossos e tinham-nos prometido nem matar nunca os inimigos nem comer carne humana. Agora porém convencidos por estes cristãos e levados pelo exemplo de uma nefanda e abominável depravação, preparam-se não só para os matar mas também para comer. Da guerra a que me referi acima, tendo um destes cristãos trazido um cativo, entregou-o a um irmão dele para o matar. E matou-o de fato com muita crueldade, tingindo as próprias pernas de vermelho e tomando o nome de quem matara em sinal de honra, como é costume entre os gentios; e, se o não comeu, deu-o ao menos a comer aos índios, exortando-os a que não deixassem perder a quem ele matara, mas o assassem e levassem para comer.

Outro irmão do mesmo, advertindo-se de que tivesse cuidado com a Santa Inquisição, por seguir costumes gentílicos, respondeu que vararia com flechas duas inquisições.

E são cristãos, nascidos de pai cristão, que sendo espinho não pode produzir rosas.

Este passou quase 50 anos nesta região, junto com uma concubina brasílica, e gerou muitos filhos: a salvá-los dedicaram os irmãos de nossa Companhia todos os cuidados e canseiras....

Notando, porém que nenhum fruto se obtinha dele, mas que ao contrário continuavam o maior escândalo, tanto o pai como os filhos que estão unidos com duas irmãs e duas filhas, do mesmo pai começaram os Irmãos a exercer sobre eles algum rigor e violência, sobretudo separando-os da comunhão da Igreja.

Mas eles, que deveriam ter mudado com esta medida, estão a tal ponto depravados, que nos têm o maior ódio e procuram prejudicar-nos de todos os modos, ameaçando-nos até de morte e esforçando-se para inutilizar a doutrina em que educamos e instruímos os índios por concitar ódio deles contra nós.

E assim, se não se extinguir completamente esta peste tão perniciosa, não só não se poderá seguir na conversão dos infiéis, mas terá de debilitar-se e diminuir cada vez mais.

7º) Carta: Ir. José de Anchieta ao Padre Inácio de Loyola, São Vicente, março de 1555.

(sic) Os cristãos nascidos de pai português e mãe brasílica de que fiz menção no último quadrimestre, estão tão duros e cegos que crescem estão cada vez mais o ódio duro que nos têm. Não o podendo exercer contra nós por obras, aplicam-no para a ruína dos índios de maneira que já destruíram completamente uma aldeia em que morava o Padre Francisco Pires e o Padre Vicente Rodrigues, incitando os índios a matar os contrários e a comer sua carne.

Mas ainda não basta aos agentes do demônio. Se pudessem até aos próprios portugueses afastariam da fé cristã.

Costumando o Reverendo em Cristo P. Manoel da Nóbrega visitar uma povoação de Portugueses em que residem e levar-lhes o alimento espiritual, pode tanto a iniqüidade e malícia deles que estorvaram o Padre a continuação desta obra, privando os cristãos de alimento espiritual. Dominou-os tanta loucura e fúria que os próprios cristãos, pelo amor que tem ao Padre não deixaram que vala, porque sabem que ele está ameaçado de morte; e preferem antes privar-se deste benefício que pôr em risco a vida do Padre, que ele, todavia não duvida em sacrificar de boa mente por eles. E desta maneira pretendem impedir a que uns não tratem e outros que não se aproximem de Cristo.

Por que se conserva nesta terra esta peste, que contamina a todos com seu nefando contágio? Arranque-se para que não se apague de todo nos próprios cristãos o nome de Cristo.

Vamos sofrendo com paciência que depois da tempestade vem a bonança. Especialmente agora que se encontrou grande abundância de oiro e prata, ferro e outros metais com que enchem as próprias casas onde moram; o que levará o Sereníssimo Rei de Portugal a mandar para aqui uma força armada e numerosos exércitos, que dêm cabo de todos os malvados que resistem à pregação de Evangelho e os sujeitem ao jugo da escravidão.

 

Bibliografia usada para estruturar este trabalho:

# A Cidade e o Planalto Gilberto Leite de Barros, Martins, 1967, I Tomo, em especial as pgs: 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16,17, 19, 21, 22, 23, 27, 28, 29, 35, 36, 37, 38, 40, 41, 44, 45, 49, 53, 54, 57, 58, 60, 82, 83, 85, 90, 91, 92, 93, 94 (Balthazar), 95, 96, 123, 124, 164, 168, 169, 173, 174, 180, 186, 188, 191, 193, 196.

# Vida e Morte de BandeiranteJosé deAlcântara Machado, (AM), Martins, 1972, em especial as pgs: 3, 8, 25, 26, 29, 32, 37, 43, 49, 54, 60, 91, 146, 160, 172, 180, 181 e 185.

# Bandeirantes e Pioneiros Vianna Moog, 14ª Edição, Civilização Brasileira, 1983, em especial as pgs: 26, 27, 28, 62, 63, 64, 65, 67, 68, 69, 70, 71, 88, 89, 91, 92, 100, 101, 102, 103, 105, 110, 111, 166, 167, 170, 171, 172, 174, 175, 176, 242, 243, 245, 268, 269, 276, 288, 289.

#Omegna (NO), Nelson. A Cidade Colonial, Brasília, Ebrara, 1971, em especial as pgs: 57, 59, 60, 119, 123, 124, 125, 135, 136 (reproduzida no texto), 137, 254, 255, 259, 261 e 264.

#Bueno (EB), Eduardo. Naufrágios, Traficantes e Degredados, Rio de Janeiro, Objetiva, 1998, em especial as pgs: 71, 74, 75, 173, 177, 178, 179 e 180.

#Pedro Taques de Almeida Paes Leme Revista Genealógica Brasileira, ano VI, 1945, pgs. 75 a 81.


#Genealogia Paulistana, de Luiz Gonzaga da Silva Leme, (*1852 - †1919)

Título Moraes: Volume VII, Pgs: 3, 25 e 56.

Volume VII pg 3 > Moraes: Esta família teve princípio em Balthazar de Moraes de Antas, 12º avô de Anibal, que de Portugal passou a S. Paulo onde casou com Brites Rodrigues Annes f.ª de Joanne Annes Sobrinho, que de Portugal tinha vindo a esta capitania trazendo solteiras três filhas, que todas casaram com pessoas de conhecida nobreza.

Pedro Taques, de quem copiamos esta notícia sobre os Antas Moraes e que por sua vez copiou-a do título dos Braganções na livraria de José Freire Monte Arroio Mascarenhas em 1757.




#Luís Gonzaga da Silva Leme Revista Genealógica Latina, nº 6, pgs. 14 e 15.

#Brasil: uma História, Eduardo Bueno, Atica, 2003.

#A Coroa, a Cruz e a Espada Eduardo Bueno, RJ, Objetiva, 2006.

#Café e Ferrovias Odilon Nogueira de Matos, 4ª Edição, 1990, pgs: 29 a 34.

#O Palacete Paulistano Maria Cecília Naclério Homem (USP), pg. 79.

#Pedro II do Brasil, Gloria Kaiser, Agir Editora Ltda, Rio de Janeiro, 2000.

Formação do Brasil Contemporâneo, Caio Prado Jr., 23ª Edição, 2004, Brasiliense, pgs: 24 a 30, 36 a 52, 69 a 82.


# História do Brasil, Empreendores, pg. 53, Jorge Caldeira, Mameluco, 2009, SP.

#1565, Enquanto o Brasil nascia, Pedro Doria, pg. 258, Nova Fronteira, 2013.


#História de Portugal Jose Mattoso, Vol. 4, Antigo Regime, Edit. Estampa, 1998, várias pgs.

#O feudo Luiz Alberto Moniz Bandeira, 2ª Edição, Civilização brasileira, 2007 em especial as pgs: 66, 71, 72, 76, 95, 98, 107, 116, 126, 146, 619. Na Bahia tivemos Diogo Álvares o Caramurú (nasc. em Viana do Castelo, alguns o rotulam de Judeu. Fal. 5/10/1557, com mais de 70 anos e sua mulher a India Catarina do Brasil, a Paraguaçu, batizada a 30/7/1528 em Saint Malo, França) com 4 filhas perfeitamente documentadas: Ana, Genebra, Apolônia (ou Pelonia) e Grácia. Caramuru estava no Brasil entre 1509 e 1511. A documentação sobre o casal é muitomais consistente e confiável do que a documentação da família de João Ramalho levantada por Pedro Taques que se perdeu, como diz Silva Leme, pois na Bahia que era o centro administrativo da colônia houve riqueza e a presença de nobres (2os ou 3os filhos), pois lá havia muito $$$$ com a produção do açúcar e tinha contato constante com Portugal como sede do Governo Geral e a presença dos franceses nas redondezas comerciando pau brasil com os índios , coisa que não havia em São Paulo, no fim do mundo, perdida/escondida no interior e com uma terrível serra atrapalhando a comunicação com o litoral.

# Revista Genealógica Latina nº 6 do Instituto Genealógico Brasileiro.

# Folha de São Paulo, 4/2/2007, Artigos sobre Caio Prado.

# Vinicius da Mata Oliveira: forneceu Documento Anais da Biblioteca Nacional, Volume 73. (Abril, 2015)


 

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Genealogia e Historia = Autor Anibal de Almeida Fernandes