Fazenda Flores do Paraíso, a jóia de Rio das Flores, RJ.

Uma trama familiar dos Guimarães aos Arantes no Brasil Imperial

Localização: Estrada Rio das Flores-Paraibuna, 9,3 km após Rio das Flores, RJ, no seu Distrito de Manuel Duarte

Autor: Anibal de Almeida Fernandes, Junho, 2010.

 

Casa construída entre 1845 e 1853 e já tinha iluminação a gás

A rotina diária numa fazenda de café fluminense começava cedo, antes das 5 horas, acordando as pessoas e predispondo-as para a jornada diária de trabalho no campo e na casa grande. As festas são memoráveis, delas participam convidados da corte e vizinhos, também fazendeiros. Os banquetes tinham uma vintena de pratos diferentes, com vinhos raros, importados da França, que eram guardados nas adegas das casas, algumas famosas como a do Visconde do Rio Preto, em sua imponente fazenda Flores do Paraíso, a jóia de Rio das Flores que é emblemática como referência histórica para claro entendimento do período do fausto cafeeiro da região fluminense que não teve rival no Brasil inteiro. A fazenda Flores do Paraíso pertencera a João Pedro Maynard, íntimo freqüentador da Corte Real e companheiro das farras dos príncipes, Miguel e seu irmão Pedro este, futuro Pedro I Imperador do Brasil e, ambos, futuros reis de Portugal.

Domingos Custódio Guimarães, nasceu em São João d’EL Rei, MG, foi 1o Barão a 6/12/1854 e Visconde de Rio Preto a 14/3/1867e, ao desfazer a sociedade comercial Mesquita&Guimarães, para transporte de carne mineira para abastecer à Corte e cidade do Rio de Janeiro, de seu sócio que era íntimo de Pedro I, o banqueiro José Francisco de Mesquita, 1790-1873, (Barão em 1841, Visconde em 1854, Conde em 1866 e Marquês de Bonfim em 1872), Domingos Custódioestava riquíssimo e resolveu empregar o seu dinheiro em um negócio agrário que estava começando a chamar a atenção dos ricos empreendedores da época: a cultura cafeeira que dava menos despesa que a cana de açúcar.

O futuro Barão/Visconde do Rio Preto incumbe o seu sobrinho, Joaquim Custódio Guimarães, de comprar terras na região fluminense, próximas à Corte. Ele compra fazendas em Minas Gerais: Sta. Quitéria, Montacavalo, Mirante e São Bento e no Rio de Janeiro: Loanda e a Paraíso, que pertenciam a João Pedro Maynard, acima citado, e mais: Criméia, São Leandro, Sta. Tereza, São Policarpo, Sta. Bárbara, União, Sta. Genoveva, Mundo Novo. Essas 14 fazendas na fase áurea produziam 60.000 arrobas de café por ano, o que dava uma renda anual ao Visconde de US$ 1.725.000 (considerando-se a saca de 60 kg. sendo vendida a R$ 230,00 e o US$ valendo R$ 2,00), ou seja, uma verdadeira fortuna para o custo de vida da época !!

Uma descrição da Fazenda Flores do Paraíso:

Essa casa de fazenda foi a casa de fazenda do Tarcísio Meira na série da Globo Um só coração sobre a Iolanda Penteado.

Em uma rua de 400 metros, ladeada por palmeiras imperiais, que se abrem no final, em gracioso semicírculo, encontra-se o palacete com a placidez de um solar. Dentro resplandece o luxo, no estilo do mobiliário, na pureza dos cristais e dos espelhos, nas finas tapeçarias, na sobriedade dos damascos, nas pratarias lavradas. Galerias de quadros de valor, museu de raridades, tudo continha a Paraíso do Visconde. Há no térreo, 2 salões, de bilhar e de visitas, 4 quartos, escritório, biblioteca, sala de almoço, copa, salão de costura, capela e várias dependências: banheiros, dispensa e cozinha. No sobrado, salão de recepções, alcançado por majestosa escada (cujos lados tem dois negros de bronze, de tamanho natural, sustentando nas mãos ricos candelabros) e que bifurca para a esquerda e direita, há ainda, sala de armas, sala de jantar onde na parede está pintada “Baía de Guanabara 1800” de José de Villarongo, vasto dormitório, alcova, 20 quartos para hóspedes e vários banheiros. Na fazenda trabalhavam 500 escravos e havia uma banda de música com 50 figuras que tocava nos jantares e festas, sempre opulentos e regados com os melhores vinhos franceses da famosa adega do Visconde. A casa construída entre 1845 e 1853 e tinha iluminação a gás que só chegou a São Paulo em 1870. Até hoje se conservam as senzalas e o hospital de escravos. Domingos Custódio Guimarães, nascido em 1800 e falecido em 1868, é um perfeito exemplo do grand-seigneur do patriciado fluminense. A história do percurso da posse da propriedade, do início do séc. XVIII até os dias de hoje, forma uma trama familiar que une várias famílias das províncias de Minas e Rio numa teia de parentescos consangüíneos e contra parentescos, como vemos nos fatos relatados a seguir:

1o) Joaquim Custódio Guimarães, comprou a Flores do Paraíso por indicação do Capitão Domingos Antonio Ribeiro do Valle que é filho de João Ribeiro do Valle que é irmão de Felisberto Ribeiro do Valle, 6º avô de Anibal, ambos filhos de Antonio Ribeiro do Valle, 7º avô de Anibal  todos de São João d’El Rei, MG. Esse Joaquim Custódio Guimarães, sobrinho do Visconde, vem a se casar com uma filha de Domingos Antonio Ribeiro do Valle. Temos cá, a união do sangue Guimarães do Visconde do Rio Preto com o sangue Ribeiro do Valle. Nota: a 2ª mulher do Visconde do Rio Preto, Maria das Dores de Carvalho, Viscondessa de Rio Preto, fal. a 12/1/1873, é filha de Joaquim Inácio de Carvalho e Cândida Umbelina, é neta de Ana Maria e João Pereira de Carvalho, é bisneta de Diogo Garcia e de Julia Maria da Caridade uma das 3 Ilhoas de Minas Gerais e que era afilhada de batismo de Antonia da Graça, (outra das 3 Ilhoas) que é 7ª avó de Anibal. Não há parentesco com o Carvalho de João Gualberto de Carvalho o 1º Barão de Cajurú, que vem de Caetano de Carvalho Duarte, meu 6º avô, bat 1702, que se estabeleceu em São Miguel de Cajurú, MG, sendo o Patriarca do tronco Carvalho Duarte-Cajurú.

2o) João Gualberto de Carvalho, 4º avô de Anibal, foi 1º Barão de Cajurú a 30/6/1860 tendo como recomendação, dentre outros, do então, Visconde de Bonfim, José Francisco de Mesquita que fora sócio do Visconde do Rio Preto no transporte de carne para a Corte. O 1º Barão de Cajurú é casado com Ana Inácia, filha de Inácio Ribeiro do Valle. Este Inácio é filho do Felisberto e é sobrinho do João Ribeiro do Valle, ou seja, o pai da mulher do 1º Barão de Cajurú é primo-irmão do Domingos Antonio Ribeiro do Valle cuja filha se casou com o sobrinho comprador de fazendas do Visconde do Rio Preto. Temos cá, o contraparentesco entre o sangue Carvalho do meu 4º avô, o 1º Barão de Cajurú, com o sangue Guimarães do Visconde do Rio Preto e o parentesco do sangue Ribeiro do Valle com o sangue Guimarães do Visconde do Rio Preto e, também, a ligação de amizade entre o sócio do Visconde de Rio Preto, o Visconde de Bonfim, e o 1º Barão de Cajurú.

3º) Morre o Visconde do Rio Preto, a 7/7/1868, no meio da magnífica festa que dava na Paraíso para comemorar o aniversário do Visconde do Rio Preto e a inauguração do ramal Paraibuna-Porto das Flores (Manuel Duarte) da estrada de ferro União e Industria. O Visconde deixa uma fortuna de 4.000 contos de réis, equivalentes a 4.000 kg. de ouro na época, (considerando a gr. de ouro a R$ 50,00 temos R$ 200 milhões). A Paraíso vai para seu filho Domingos, 2º Barão de Rio Preto que, ao morrer em 1876, deixa a Paraíso para seu filho, também Domingos (Dominguinhos), que é casado com uma filha de Manoel Vieira Machado da Cunha, Barão d’Aliança, que comprou a Paraíso do genro em 1895. Este Barão d’Aliança é sobrinho de José Vieira Machado da Cunha, 1º Barão do Rio das Flores que, por sua vez, é bisneto do casal Antonio da Cunha Carvalho e Bernarda Dutra da Silveira que são 6º avós de Anibal. O 1º Barão Rio das Flores é casado com Maria Salomé que é irmã do bisavô de Aníbal, João Antonio de Avellar e Almeida e Silva que é casado com Ana Margarida que é neta-paterna dos meus dois 4ºs avós: o 1º Barão de Cajurú e Manoel Rufino de Arantes. Temos cá, o parentesco entre o sangue Carvalho do meu 4º avô, 1º Barão de Cajurú e o sangue Avellar e Almeida do meu 4º avô Manoel de Avellar e Almeida, com o sangue Guimarães do Visconde.

4º) Em 1912, a Flores do Paraíso é vendida pelo Barão d’Aliança ao Cel. Alexandre Belfort de Arantes que é irmão do Visconde de Arantes e é neto de Antonio Belfort de Arantes, 1º Barão de Cabo Verde (quem, por sua vez, é sobrinho de Manoel Rufino de Arantes, 4º avô de Anibal, e de sua mulher Ana Joaquina de Carvalho que é irmã de João Gualberto de Carvalho, 1º Barão de Cajurú). A mulher do 1º Barão de Cabo Verde é Maria Custódia Ribeiro do Valle, que é irmã de Ana Inácia Ribeiro do Valle, casada com, João Gualberto de Carvalho, 1ºs Barões de Cajurú, 4ºs avós de Anibal. Quem cuidou da fazenda Paraíso foi o filho de Alexandre, o major Galileu Belfort de Arantes, cujos descendentes são os atuais proprietários. O Visconde de Arantes é casado com uma filha dos 1ºs Barões de Cajurú, sua prima-irmã o que os torna meus tios-trisavós.

Temos cá, o grand-finalle desta secular teia/malha/trama de 5 famílias construída desde o 1º quartel do século XIX, com a junção do sangue Guimarães, do sangue Carvalho, do sangue Ribeiro do Valle, do sangue Avellar e Almeida e do sangue Arantes, através de trinetos do 1º Barão de Cabo Verde (tio-tetravô de Anibal), que são os atuais proprietários da fazenda Paraíso, agora de gado leiteiro e não mais de café que foi o grande articulista social/financeiro desta fazenda cuja belíssima casa solarenga, imponente, elegante e requintada, é considerada por Esgragnolle Taunay e o Conde d’Eu como:

o mais belo palacete rural brasileiro, a Rainha das Fazendas.

 

Fontes consultadas para estruturar esse trabalho:

O Vale do Paraíba, Eloy de Andrade, Real Gráfica, Rio de Janeiro, 1989, pgs: 205 a 208, 220, 299, 309.

História de Valença 1803-1924, Luís Damasceno Ferreira, Graphica Editora Paulo, Pongetti, Rio de Janeiro, 1925.

A Família Arantes, Américo Arantes Pereira, Legis Summa, Ribeirão Preto, 1993.

A Família Ribeiro do Valle, José Ribeiro do Valle, pgs: 12 e 57.

Dicionário das Famílias Brasileiras, Cunha Bueno/Carlos Barata, Brasília, 2000.

Anuário Genealógico Brasileiro Ano I, II, III, IV, VI, VII e IX.

E o Vale era o escravo, Eduardo Salles, Civilização Brasileira, 2008 > Manoel de Avellar e Almeida, pgs: 280/281/282 e Centro de Documentação Histórica Severino Sombra (CDH), > inventário nº 435, caixa 90, pg. 305.

O Vale do Paraíba e a arquitetura do Café, Augusto C. da Silva Telles, Capivara, 2006.

Revista Genealógica Latina, Vol. XII, 1960.

Fazendas, Editora Nova Fronteira, Memória Brasileira, 1995.

# Marcos Vieira da Cunha, fonte primária, informou as datas de nascimento e morte dos 1ºs Barões do Rio das Flores e dos filhos Manoel, Lindolpho, Mizael, e de Emiliana Garcia, tiradas dos túmulos, restaurados por ele, no cemitério de Rio das Flores, a 18 kms de Valença, 1980.

Francisco Klörs Werneck, meu primo, vários trabalhos de pesquisa não publicados.

Flávio Mário de Carvalho Jr, meu primo, forneceu inventário de Cândida Umbelina tirado do site Compartilhar.

# www.preservale.com.br Fazenda Paraíso.

# VASSOURAS a Brazilian Coffee County, 1850-1900 Stanley Stein, Harvard University, 1957:

retrata de maneira clara e objetiva o começo, formação e início da decadência de Vassouras, quando terminam as matas virgens para derrubar e plantar e a rotina míope dos vassourenses que não adubam ou cuidam de proteger a terra onde plantam; e eu nunca tinha lido sobre a confusão e decadência que causou a implantação da estrada de ferro (D. Pedro II) para as vendas e comércio da estrada de terra (Estrada da Polícia). Também me impressionou a mudança das tropas de mulas (cada uma com 9 arroubas) que custavam 33%!!!!!!!!! do que valia o café para transportá-lo até o Rio e quando chega o trem que facilita tudo e fica rei o carro de boi que carregava 100 arroubas até as estações e derruba o custo do transporte e a perda de café e mulas nos constantes acidentes anteriores e Vassouras fica riquíssima e muito sofisticada no seu modo de vida.

Pg 226 os escravos entre 1857-58 valem 73% do valor da fazenda.

Pg 246 em 1882 o escravo é o que vale nas fazendas, pois tem liquidez e as terras estão exauridas.

Pg 247 as propriedades em 1888 desvalorizam 10 vezes em relação a 1860 e o escravo tem valor zero na composição do valor das fazendas, por conta da Lei Áurea.

Pg 251 estima m 500.000 escravos libertos em maio/1888.

pg 260 estima em 500 mil contos de réis a necessidade de dinheiro.

Pg 286, 287, 288: o pasto invade os cafezais e o êxodo das famílias dos antigos fazendeiros segue firme.

Pg 293

em 1825 > 1US$ dolar = 1 conto de reis e passa a equivaler em:

1850 > 0,58US$ dólar = 0,58 conto de reis

1900 > 0,19US$ dólar = 0,19 conto de reis

Pg 294 estima em 17.319.556 hab. a população do Brasil em 1900.

Pg 295 estima em 1887 > a existência de 637.602 escravos
 
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Genealogia e Historia = Autor Anibal de Almeida Fernandes